- Eu vou indo. E você, tudo bem?
- Tudo bem! Eu vou indo, correndo
pegar meu lugar no futuro... e você?
- Tudo bem! Eu vou indo, em busca
de um sono tranqüilo...
Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é, quanto tempo!
- Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
- Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
- Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
- Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é...quanto tempo!
- Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira
das ruas...
- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
- Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
- Pra semana...
- O sinal...
- Eu procuro você...
- Vai abrir, vai abrir...
- Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
- Por favor, não esqueça, não esqueça...
- Adeus!
- Adeus!
- Adeus!
A música sinal fechado de Chico Buarque e Paulinho da viola nos coloca diante de um drama da contemporaneidade. O drama da falta de tempo. Nossas relações estão marcadas pela pressa e pelo imediato. Quase já não é mais possível para e esperar. A existência inteira faz-se maquinal e rotineira. Já não encontramos mais tempo para saborear as atividades mais simples e humanas. Vivemos uma quantidade de experiências rápidas, amontoadas, sem possibilidade de avaliação... e vamos perdendo, pouco a pouco, o sentido da história pessoal e comunitária. Todo esse contexto nos é imposto por uma cultura de resultados. Uma cultura que produz pessoas ansiosas, frustradas, sem direção, vazias...
Os meios de comunicação são o grande instrumento propagador dessa cultura. Impõe-nos, com suas programações nada inocentes, a busca pelo sucesso custe o que custar, doa a quem doer. Propaga a ideologia da vaidade que responde por essa ânsia de tudo ganhar, de comparar-se com os outros num ritmo frenético e assim a vida vai se tornando uma sucessão de fatos e acontecimentos ocos, superficiais, rotineiros, sem sentido, carregados de desencanto.
Este contexto, no qual vivemos e do qual também somos vítimas, se torna um desafio ainda maior quando pensamos na educação da juventude. Adolescentes e jovens são as maiores vítimas dessa situação. Em processo de formação tornam-se o principal alvo dessa cultura, vivendo num mundo vazio, superficial e sem perspectivas. Mas se são as maiores vítimas também são eles que carregam a possibilidade de transformação dessa mesma realidade. A pergunta que nos cabe diante dessa realidade que nos toca viver é: como ajudar os jovens a deixarem esse estado de letargia e recuperar seus sonhos e utopias? Como fazer valer sua potencialidade transformadora?
Antes de tudo, é preciso procurar o tempo de parar. Tempo de purificar os ouvidos, de desintoxicar-se dos ruídos. É preciso dar tempo para que todo esse emaranhado de informações, imagens e sons sejam digeridos criticamente. É preciso dar tempo para recuperar os sentidos e desenvolver um olhar atento capaz de ver para além das aparências. É preciso enfim criar um tempo necessário para desenvolver ou resgatar nossa interioridade.
O ser humano não é apenas extroversão, comunicação e relação. Ele é também silêncio, interioridade, mistério e solidão. É no interior de si mesmo que encontra os elementos necessários para enfrentar o mundo. Claro está que está que voltar-se para o seu interior não significa isolamento e alienação, mas uma necessidade vital sem a qual corre-se o risco de sermos o que nos é imposto por esse mundo globalizado. Mergulhar no nosso interior significa escutar nosso coração, nossa consciência, para melhor nos conhecer e dirigir nossa vida. Escutar as pessoas, para enriquecer-nos com sua diversidade e amá-las melhor.
Essa atenção ao nosso interior ajudará a recuperar o sentido do cotidiano, das coisas simples, da amizade, do lúdico. Todas essas potencialidades estão latentes nos jovens. O Dicionário Michaelis define latente como “atividade ou caráter que, em certo momento, não se manifesta, mas que é capaz de se revelar ou desenvolver quando as circunstâncias sejam favoráveis.” Esse é o desafio: criar condições favoráveis para que os jovens desenvolvam e revelem toda sua potencialidade. Permitir que eles possam viver do jeito deles, como protagonistas as dimensões da festa, do humor, da gratuidade, da beleza, da bondade, do silêncio, da música, da arte, da poesia, da amizade, do entusiasmo, da ternura, da partilha, da admiração. Elementos que precisam urgentemente ser resgatados em nossa sociedade criando um ritmo de vida diferente com pausas e espaços que nos permitam, especialmente os jovens, recuperar o sentido de nossa existência.
José Henrique Sasek
José Henrique Sasek
"Tempo.. tempo ... tempo mano velho"
ResponderExcluirAdorei o texto que para mim é reconfortante e instigador.
Sempre ouvimos que "tempo é dinheiro" e então fico imaginando se sou pobre ou só indisciplinada (ou as duas coisas)
Certo é... muitas vezes somos engolidos pela rotina e acabamos sendo levados por ela. Somos inclusive levados a deixar de fazer tantas coisas essenciais, mas muitas vezes simples.
ostaria de parabenizar todo o grupo pelo ótimo espaço de formação para educadores e desejar que esse conhecimento seja cada dia mais difundindo. Ah, adorei as ferramentas auxiliares.. bem legal mesmo