Imagem do blog.gersonavillez.com O dia 07 de abril ficou marcado pela Chacina de Realengo. Naquele dia escrevi um texto, na verdade um desabafo, refletindo sobre esse acontecimento. Enviei esse texto como sistematização da disciplina História, sociologia e religiosidade dos adolescentes e jovens deste curso de especialização em adolescência e juventude. Destaco neste “texto desabafo” a violência atribuída aos jovens que na verdade são vítimas de um estado ausente. Também ressalto o papel da mídia que explora o fato de forma sensacionalista buscando apenas e tão somente melhor desempenho nos seus níveis de audiência. Vale a reflexão para não deixar cair no esquecimento e acabarmos considerando tudo natural. O lado oculto da chacina de Realengo Depois que vi a notícia fiquei pensando sobre o fato, nas famílias que perderam seus filhos e filhas, na dor dos que estão feridos, mas fiquei pensando mais ainda no Wellington. Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, ex-aluno da escola onde cometeu a chacina. Algumas perguntas povoaram minha mente e inquietaram meu coração de educador: O que leva um ex-aluno a atentar contra a instituição que deveria lhe dar não só acesso ao saber, mas também condições de desenvolver todo seu potencial humano? O que a escola tem feito com os/as jovens? Que caminhos levaram esse jovem a tomar essa atitude tão extrema? A mídia em sua intensa e massiva cobertura divulgou sua interpretação para os fatos entrevistando psicólogos, especialistas em segurança e analistas da violência. Tudo o que me ocorreu sobre o fato aponta em outra direção. Meu olhar se fixou na realidade dos adolescentes e jovens brasileiros que lutam para conseguir seu espaço e serem reconhecidos como pessoas de direitos. Por esse olhar o que aconteceu no Rio não é um fato isolado, como querem nos fazer crer. Wellington é mais uma vítima de um sistema educacional, gerador de traumas, onde existe grave situação de preconceito e discriminação. Adolescentes e jovens, principalmente pobres, negros, homossexuais e deficientes físicos, estão entre os que mais sofrem preconceito e discriminação nas escolas. Este sistema não é capaz de gerar espaços alternativos de convivência e participação o que acaba criando para os jovens uma erosão dos laços de convívio social. Para o Wellington esse rompimento chegou ao extremo. A culpa dessa situação é resultado de uma produção de longa data devido a um Estado que foi se ausentado das suas responsabilidades e investindo em um desenvolvimento econômico que prioriza lucros e as necessidades das elites e, com isso, gerando uma concentração de renda, desencadeando um processo de aumento e intensificação da precarização das condições de vida dos jovens e da população que não são beneficiados dos recursos produzidos. Representante desse estado o governador se refere a Wellington como um “animal”. Será difícil perceber que esse “animal” foi criado por um estado que não consegue gerar oportunidades para os jovens e que assim outros “animais” estão por vir? Wellington é uma “construção” desse modelo de sociedade desumanizante. O jovem Wellington, como tantos outros jovens, não foi reconhecido dentro dessa organização. Era um ser social invisível. A mídia o torna agora conhecido no mundo todo com o seu já conhecido sensacionalismo globalizado que camufla a essência dos fatos. Fiquemos solidários com os jovens e adolescentes que morreram vítimas de um estado omisso que usa os “jovens wellingtons” da vida como bode expiatório. José Henrique Sasek |
Caro Sasek
ResponderExcluirImpressiona realmente como a mídia utiliza-se da tragédia de forma sensacionalista e sem ir a fundo nas questões profundas que estão por trás dos fatos. Também fiquei pensando na ausência e descaso total do Estado e da Instituição Escola no caso do jovem Wellington em tudo o que ele sofreu, não descarto que foi uma tragédia, mas como muitos comentários na internet em relação a esse jovem o consideravam um monstro, não podemos esquecer que esse "montro" foi construido por um sistema que domina e despreza, não respeitando a vida e a dignidade das pessoas.
Margareth Maria Araujo Mendes
Caro Sasek,
ResponderExcluirFiquei muito contente com outra visão abordada por você, do caso de Realengo. A meu ver os fatos noticiados na grande Mídia foram extremamente sensacionalistas. A mídia não questionou que o Jovem Wellington foi fruto de um sistema social fadado ao fracasso, de uma educação que falhou nos seus processos. De um Estado que se eximiu da culpa e da responsabilidade, de uma escola que bem sabemos, não tem condições de possibilitar o protagonismo de adolescentes e jovens, seja pela falta de estrutura, da formatação curricular, do nivelamento dos processos, sem falar dos preconceitos, da violência escolar. O que dizer da falta de condições dignas para o professor.
Clemilson Graciano.