terça-feira, 28 de junho de 2011

O Sentido da Vida!

A busca do sentido para a vida.

No mês passado estava andando por uma avenida movimentada aqui de Curitiba e me deparei com uma movimentação enorme no canteiro que separa as duas pistas da avenida. Muita gente, algumas viaturas da polícia e alguns policiais de arma em punho. Um jovem havia sido executado por inimigos do tráfico de drogas de um bairro próximo. A cena daquele jovem não me saiu mais da cabeça. No dia seguinte comprei o jornal para saber do que se tratava. O que mais me chamou a atenção foi a idade do jovem assassinado: 17 anos. Ele vendia maconha naquele bairro. Estava internado num centro de recuperação e havia saído fazia três dias. Ao retornar para a sua casa, os inimigos não o perdoaram.
Foto: http://bit.ly/k0VBza
 Fiquei alguns dias pensando sobre este fato ocorrido. Perguntei-me por diversas vezes o que faz um jovem de 17 anos se enveredar por um caminho que não tem mais volta?
 Imagino quantos jovens iguais a esse existem por este mundo. Qual o sentido da vida para eles? Se eles não vêem mais sentido para a vida, por que o perderam?
Foi pensando neste fato que resolvi escrever sobre o sentido de vida. Vamos nessa?
Temos escrito muitas vezes sobre os valores que regem nossa vida. É óbvio que cada um, dependendo de seus interesses, elegem os valores, ou contravalores, que mais lhe convém. Para mim, o maior valor de todos, sem dúvidas, é a VIDA. Para que esse valor seja vivenciado de forma plena precisamos estar atento ao seu significado, ou seja, ao sentido que damos a ela.
Sabemos que a nossa sociedade atual demonstra claramente que a pessoa para ser feliz precisa TER. Se em nossa vida não lutarmos para “ter” as coisas que a sociedade de consumo nos oferece, com facilidade podemos afirmar que a nossa vida não tem sentido se não estivermos na “onda”. Isso justifica as várias maneiras de se conseguir as coisas. Vemos as pessoas numa luta violenta em busca do ter, nem que para isso seja necessário “pisar” no outro. Todas as injustiças que acompanhamos pelos noticiários têm seu fundamento no TER mais. Quando o PODER sobre na cabeça do ser humano, tudo se torna relativo, inclusive a própria vida.
O verdadeiro sentido da vida nós encontramos na busca da felicidade, que se dá justamente quando buscamos também a felicidade do outro. O sentido da vida se centra em nosso projeto de vida, que deveria ter como base o próprio projeto de vida de Jesus Cristo: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. É nessa verdade que encontraremos o sentido de nossa vida. Ao abrirmos o nosso coração ao outro vamos aos poucos encontrando o nosso tesouro: a felicidade de viver. Quando nos tornamos egoístas e fechados em nós mesmos vamos perdendo aos poucos o real sentido da vida.
Foto: http://bit.ly/lnTdHp
Querido jovem, buscar o sentido da vida baseando-se somente no nosso TER não vai ajudar em nada em nossa realização plena. O SER é tudo diante dessa realidade. Por isso é muito importante a busca constante do SER cada vez mais. Ser mais humano, mais bondoso, mais amigo. Colocar esse objetivo em nosso projeto de vida vai dar muito mais valor à nossa busca constante de sermos felizes e tornar o nosso próximo feliz. O sentido da vida se conquista através de ações que nos torna seres humanos capazes de “dar a vida ao outro”, de “morrermos” para o nosso egoísmo, para os nossos ciúmes, para as nossas mesquinharias e mediocridade. Somente dessa forma seremos felizes e não ficaremos abandonados, nas mãos de algozes, como aconteceu como aquele jovem de 17 anos que há tempo já havia perdido o sentido da vida.
Queremos renovar, então, o nosso projeto de vida, buscando cada vez mais o sentido para a nossa vida. É um “parada” desafiadora, mas com a graça de Deus e com o nosso esforço chegaremos lá. Força e coragem, pois ELE está conosco.

Um forte abraço e conte sempre comigo
irmaojoao@hotmail.com
@brotherjohnp


A busca do sentido da vida – dinâmica de motivação e reflexão

Objetivo: descobrir através da realidade que nos cerca motivos que nos levam a descobrir o sentido da nossa vida.

Tempo: 20 a 30 minutos

Número de participantes: até 30 participantes

Material: recortes de jornais ou revistas que mostram as mais diversas realidades (negativas e positivas) no Brasil ou fora. (Ex. guerras, terremotos, gripe aviária, drogas, família unida, cientistas descobrindo remédios e curas, pessoas felizes, nascimentos, lares etc. aqui a quantidade pode variar de acordo com a disponibilidade do material);
Aparelho de som;
Músicas: uma música alegre e agitada e uma música mais reflexiva.

Ambiente: uma sala ou outro local onde os recordes de revistas ou jornais possam ser disponibilizadas, no chão ou na parede.

Desenvolvimento

O coordenador do grupo solicita aos participantes que andem pela sala, ao de uma música reflexiva, olhando os recordes espalhados pela sala. É necessário que neste primeiro momento os participantes façam isso em silêncio. Solicitar que todos os participantes reflitam sobre cada realidade observada.
Após a observação, o coordenador cessa a música e solicita que os participantes respondam para si as seguintes perguntas: analisando a sua vida e comparando com as realidades observadas, qual o sentido que você dá para a vida? Como você valoriza a sua vida? Diante das realidades negativas que você observou que conclusão se pode tirar? Diante das realidades positivas, que conclusões se pode ter? O coordenador recoloca a música. Os participantes podem permanecer caminhando e observando os recortes.
Terminada a reflexão, o coordenador solicita que em duplas ou trios, sentados, partilhem as perguntas dadas anteriormente.
Quando os grupinhos terminarem a partilha o coordenador faz uma reflexão sobre a nossa maneira de ver a realidade e como a enfrentamos (o coordenador pode usar motivações de acordo com a realidade do grupo).
Depois dessa reflexão, o coordenador deixa a palavra livre para quem quiser se manifestar sobre a dinâmica.
Terminada a partilha do grupo, o coordenador coloca a música alegre e pede aos participantes que caminhem pela sala alegres, contentes, pulando, de braços dados, abraçados, em grupinhos de dois ou três e vão recolhendo os recortes negativos e colocando no lixeiro e os recortes positivos no centro da sala. Após esse exercício, o grupo faz um grande circulo ao redor dos recortes positivos e fazem um momento de louvor a Deus pelo dom da Vida, agradecendo as coisas boas da vida e fazendo o propósito de sempre lutar contra o desânimo, contras as desmotivações e propondo se ajudarem mutuamente, sobretudo quando alguém do grupo estiver desmotivado. Esses propósitos podem ser em forma de oração. Termina-se o momento com a oração do Pai-Nosso e com o abraço da paz.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Jovem "Cara Pintada" X Jovem “hashtag“


Olá estimados amantes da juventude!

Aproveitando a febre atual que virou as Redes Sociais nos últimos anos no meio juvenil e o poderoso instrumento de evangelização que tais redes representam, faço uma reflexão a respeito de uma frase que li há algumas semanas atrás, a qual me fez refletir e me encorajou a escrever este texto. A frase dizia mais ou menos assim: "No passado os jovens pintavam a cara e sairam às ruas e derrubaram um presidente. Hoje eles usam uma #hashtag com fora Sarney e acham que estão arrasando". Ai, ai, ai ... que frase forte. Afinal, o que esta frase tem de verdade? O que tem de exagero? Concordo? Discordo?
Pois bem, vamos a uma reflexão. Saliento que é apenas o meu ponto de vista, ficando você livre para discordar e tecer seus comentários sobre esta minha reflexão.
Os jovens dos últimos anos estão acomodados ou são vítimas da tecnologia, que veio facilitar as coisas? As Redes Sociais tornaram nossos jovens amorfos (sem vivacidade, sem energia, inativos)?, afinal de contas basta ficar em frente de um computador, conectar, escrever, publicar e pronto. O que está acontecendo?
Acredito que não se trata de saber quem está errado ou certo. Sou da opinião que cada época ou geração tem as suas armas e ferramentas para protestar e produzir os efeitos desejados. É óbvio que na época dos "caras pintadas" a atitude mais visível para aquele período era fazer o que eles fizeram. Foi uma atitude única, que levou milhares de pessoas às ruas, empunhando faixas, bandeiras do Brasil, vestindo a cor preta e pintando o rosto de verde e amarelo.Quem não iria notar, sobretudo com o resultado que teve, com a queda de um presidente? Naquele momento, depois de tanta pressão, o Congresso optou pelo Impeachment” do Presidente da nação. Este ato teve uma grande visibilidade perante a sociedade e perante o mundo. Foi notícia em todas as TV´s do Brasil e do Mundo; teve lugar na imprensa nacional e internacional. Dessa forma, até os dias de hoje os "caras pintadas" são recordados. 
E hoje? Temos jovens que têm muito mais que tintas para pintar seus rostos. Temos jovens que dominam a tecnologia e que têm a sua frente meios modernos, rápidos e eficazes; têm as Redes Sociais para imprimir um ritmo veloz e em  poucos minutos atingir milhares de pessoas espalhadas por todo o mundo. E então, o que está faltando? A diferença está nos meios ou nos jovens?
Por que os jovens foram às ruas com as caras pintadas e derrubaram um Presidente da República e nos dias atuais não derrubaram o Presidente do Senado com uma  #hashtag? 
A minha pergunta vai a você leitor, jovem, amigo e crítico: os jovens mudaram? Os jovens se acomodaram? ou não temos mais políticos com coragem e vergonha na cara para derrubar qualquer um que seja corrupto e engana o povo a cada dia? Por que apenas o jovem leva a culpa? É uma questão de pintar a cara ou colocar uma hashtag no twitter ou é uma questão de VERGONHA NA CARA dos nossos representantes legais que estão lá no poder? Será que é necessário derrubar presidentes, sair às ruas, pintar a cara, para valorizar os nossos jovens? E as outras coisas que os jovens fazem e não são vistos ou reconhecidos? Ora, pelo menos eles tiveram a coragem de destacar uma #hashtag e fazer milhares de pessoas lerem e repetir ao Brasil todo, que eles estavam descontentes com esses políticos; foi a forma mais visível, que nos dias de hoje representa pintar a cara e sair pelas ruas; aqueles que concordavam com isso repassavam, escreviam e comentavam; tenho a plena certeza de muitos políticos, leram essa #hashtag, que foi comentada na imprensa, foi matéria em muitos sites de notícias, inclusive na revista Veja, porém, aqueles que podiam fazer alguma coisa não fizeram. Os jovens fizeram a sua parte, do modo deles, com as tecnologias e Redes Sociais disponíveis, porém, nossos representantes o que fizeram? Simplesmente calaram.
Sim, estimado autor da frase que me motivou esta reflexão, os nossos jovens estão arrasando a cada dia com as #hashtag, assim como os caras pintadas arrasaram um dia. Sim, existe um infinito poder nos jovens e nas Redes Socias; só não percebe quem não quer; só não vê quem  é cego. Foi através do Twitter e Facebook que milhares sairam às ruas no Egito e derrubaram o presidente; não pintaram as caras; nem foi preciso. 
E quantas outras iniciativas os jovens tiveram através das Redes Socias e conseguiram alcançar seus intentos? Quantas empresas se viram em situações delicadas quando seus consumidores resolveram colocar a boca no trombone relatando as péssimas qualidades de seus produtos? Quantas pessoas tiveram que se retratar em público depois que certas verdades foram ditas via Redes Sociais? Quantas iniciativas os jovens tiveram através destas mesmas redes e usando #hashtags que levaram milhares de toneladas de alimentos ao Haiti; quanta solidariedade vimos nos últimos tempos através das redes Socias; quantas #hashtags de solidariedade às vítimas das enchentes etc. Será que preciso escrever mais alguma coisa?
Amigos leitores,  jovem "cara pintada" ou não; jovem"hashtag" ou não, faça a sua parte e faça o bem sem olhar a quem, mas não desista NUNCA de lutar por um País mais justo, solidário e humano. Vamos nos unir cada vez mais, escrevendo em nossos blogs, em nosso twitter, facebook, orkut #hashtags pedindo justiça e honestidade a nossos políticos, que na última semana deixaram a FICHA LIMPA de lado, pois a eles isso não interessa. Vamos lá jovens, acredito e confio em todos vocês. Juntos  venceremos.


Um abração.


João Batista Pereira

terça-feira, 14 de junho de 2011

O lado oculto da chacina de Realengo

  


Imagem do blog.gersonavillez.com

O dia 07 de abril ficou marcado pela Chacina de Realengo. Naquele dia escrevi um texto, na verdade um desabafo, refletindo sobre esse acontecimento. Enviei esse texto como  sistematização da disciplina História, sociologia e religiosidade dos adolescentes e jovens deste curso de especialização em adolescência e juventude. Destaco neste “texto desabafo” a violência atribuída aos jovens que na verdade são vítimas de um estado ausente. Também ressalto o papel da mídia que explora o fato de forma sensacionalista buscando apenas e tão somente melhor desempenho nos seus níveis de audiência. Vale a reflexão para não deixar cair no esquecimento e acabarmos considerando tudo natural.

O lado oculto da chacina de Realengo
Acompanhamos nos últimos dias as notícias estarrecedoras do ataque a uma escola em Realengo no Rio de Janeiro cometido por um jovem de 23 anos que causou a morte de, pelo menos 13 pessoas, incluindo o próprio que se matou com um tiro na cabeça.
Depois que vi a notícia fiquei pensando sobre o fato, nas famílias que perderam seus filhos e filhas, na dor dos que estão feridos, mas fiquei pensando mais ainda no Wellington. Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, ex-aluno da escola onde  cometeu a chacina. Algumas perguntas povoaram minha mente e inquietaram meu coração de educador: O que leva um ex-aluno a atentar contra a instituição que deveria lhe dar não só acesso ao saber, mas também condições de desenvolver todo seu potencial humano? O que a escola tem feito com os/as jovens? Que caminhos levaram esse jovem a tomar essa atitude tão extrema?
A mídia em sua intensa e massiva cobertura divulgou sua interpretação para os fatos entrevistando psicólogos, especialistas em segurança e analistas da violência. Tudo o que me ocorreu sobre o fato aponta em outra direção. Meu olhar se fixou na realidade dos adolescentes e jovens brasileiros que lutam para conseguir seu espaço e serem reconhecidos como pessoas de direitos.  
Por esse olhar o que aconteceu no Rio não é um fato isolado, como querem nos fazer crer. Wellington é mais uma vítima de um sistema educacional, gerador de traumas, onde existe grave situação de preconceito e discriminação. Adolescentes e jovens, principalmente pobres, negros, homossexuais e deficientes físicos, estão entre os que mais sofrem preconceito e discriminação nas escolas.   
Este sistema não é capaz de gerar espaços alternativos de convivência e participação o que acaba criando para os jovens uma erosão dos laços de convívio social. Para o Wellington esse rompimento chegou ao extremo.   A culpa dessa situação é resultado de uma produção de longa data devido a um Estado que foi se ausentado das suas responsabilidades e investindo em um desenvolvimento  econômico que prioriza lucros e as necessidades das elites e, com isso, gerando uma concentração de renda, desencadeando um processo de aumento e intensificação da precarização das condições de vida dos jovens e da população que não são beneficiados dos recursos produzidos.
Representante desse estado o governador se refere a Wellington como um “animal”. Será difícil perceber que esse “animal” foi criado por um estado que não consegue gerar oportunidades para os jovens e que assim outros “animais” estão por vir? Wellington é uma “construção” desse modelo de sociedade desumanizante.
O jovem Wellington, como tantos outros jovens, não foi reconhecido dentro dessa organização. Era um ser social invisível. A mídia o torna agora conhecido no mundo todo com o seu já conhecido sensacionalismo globalizado que camufla a essência dos fatos.
Fiquemos solidários com os jovens e adolescentes que morreram vítimas de um estado omisso que usa os “jovens wellingtons” da vida como bode expiatório.
José Henrique Sasek






  

domingo, 12 de junho de 2011

A juventude (por ela mesma!)

No ano de 2009 participei de uma formação sobre"juventude e múltiplas linguagens". Como conclusão de curso, os alunos deveriam realizar um trabalho em cima daquela temática.  Decidi, então, utilizar-me de tais "linguagens" para isso. Enquanto elaborava minhas ideias, percebi (a tempo) de que mais efetivo do que a minha visão sobre o que penso da juventude, seria dar um espaço para que a própria juventude falasse sobre ela mesma! A partir disso, surgiu o "Dossiê Juventude", o qual apresento a todos vocês agora! 

É bastante interessante dedicar alguns minutos para escutar aquilo que os jovens pensam sobre diversos temas, como política, religião, ecologia e demais. O grupo de estudo era composto por alunos do Ensino Médio da Instituição Marista e a  metodologia utilizada inspirou-se no "teste de associação de palavras"  de Jung: o entrevistador lançava uma palavra e os entrevistados deveriam respondem com aquilo que lhe viesse à cabeça. Assim, evitava-se respostas estereotipadas ou prontas.

Vale a pena conferir!!!


Por: Diogo Luiz Santana Galline

Sinal Fechado

- Olá! Como vai?
- Eu vou indo. E você, tudo bem?
- Tudo bem! Eu vou indo, correndo
   pegar meu lugar no futuro... e você?
- Tudo bem! Eu vou indo, em busca
 de um sono tranqüilo...
 Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é, quanto tempo!
- Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
- Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
- Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
- Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é...quanto tempo!
- Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira
   das ruas...
- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
- Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
  rapidamente...
- Pra semana...
- O sinal...
- Eu procuro você...
- Vai abrir, vai abrir...
- Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
- Por favor, não esqueça, não esqueça...
- Adeus!
- Adeus!
- Adeus!

A música sinal fechado de Chico Buarque e Paulinho da viola nos coloca diante de um drama da contemporaneidade. O drama da falta de tempo.  Nossas relações estão marcadas pela pressa e pelo imediato. Quase já não é mais possível para e esperar. A existência inteira faz-se maquinal e rotineira. Já não encontramos mais tempo para saborear as atividades mais simples e humanas. Vivemos uma quantidade de experiências rápidas, amontoadas, sem possibilidade de avaliação... e vamos perdendo, pouco a pouco, o sentido da história pessoal e comunitária. Todo esse contexto nos é imposto por uma cultura de resultados. Uma cultura que  produz pessoas ansiosas, frustradas, sem direção, vazias...
Os meios de comunicação são o grande instrumento propagador dessa cultura. Impõe-nos, com suas programações nada inocentes, a busca pelo sucesso custe o que custar, doa a quem doer. Propaga a ideologia da vaidade que responde por essa ânsia de tudo ganhar, de comparar-se com os outros num ritmo frenético e assim a vida vai se tornando uma sucessão de fatos e acontecimentos ocos, superficiais, rotineiros, sem sentido, carregados de desencanto.
Este contexto, no qual vivemos e do qual também somos vítimas, se torna um desafio ainda maior quando pensamos na educação da juventude.  Adolescentes e jovens são as maiores vítimas dessa situação. Em processo de formação tornam-se o principal alvo dessa cultura, vivendo num mundo vazio, superficial e sem perspectivas. Mas se são as maiores vítimas também são eles que carregam a possibilidade de transformação dessa mesma realidade. A pergunta que nos cabe diante dessa realidade que nos toca viver é: como ajudar os jovens   a deixarem esse estado de letargia e recuperar seus sonhos e utopias? Como fazer valer sua potencialidade transformadora?
Antes de tudo, é preciso procurar o tempo de parar. Tempo de purificar os ouvidos, de desintoxicar-se dos ruídos. É preciso dar tempo para que todo esse emaranhado de informações, imagens e sons sejam digeridos criticamente. É preciso dar tempo para recuperar os sentidos e desenvolver um olhar atento capaz de ver para além das aparências. É preciso enfim criar um tempo necessário para desenvolver ou resgatar nossa interioridade.
O ser humano não é apenas extroversão, comunicação e relação. Ele é também silêncio, interioridade, mistério e solidão. É no interior de si mesmo que encontra os elementos necessários para enfrentar o mundo. Claro está que está que voltar-se para o seu interior não significa isolamento e alienação, mas uma necessidade vital sem a qual corre-se o risco de sermos o que nos é imposto por esse mundo globalizado. Mergulhar no nosso interior significa escutar nosso coração, nossa consciência, para melhor nos conhecer e dirigir nossa vida. Escutar as pessoas, para enriquecer-nos com sua diversidade e amá-las melhor.
Essa atenção ao nosso interior ajudará a recuperar o sentido do cotidiano, das coisas simples, da amizade, do lúdico. Todas essas potencialidades estão latentes nos jovens. O Dicionário Michaelis define latente como “atividade ou caráter que, em certo momento, não se manifesta, mas que é capaz de se revelar ou desenvolver quando as circunstâncias sejam favoráveis.” Esse é o desafio: criar condições favoráveis para que os jovens desenvolvam e revelem toda sua potencialidade. Permitir que eles possam viver do jeito deles, como protagonistas as dimensões  da festa, do humor, da gratuidade, da beleza, da bondade, do silêncio, da música, da arte, da poesia, da amizade, do entusiasmo, da ternura, da partilha, da admiração. Elementos que precisam urgentemente ser resgatados em nossa sociedade criando um ritmo de vida diferente com pausas e espaços que nos permitam, especialmente os jovens, recuperar o sentido de nossa existência.

José Henrique Sasek

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A educação é a nossa melhor arma!

O Complexo do Alemão e a Juventude

Imagem do site: http://bit.ly/eCt8xW
Você deve estar muito curioso com esse título, não é mesmo? Eu vou confessar pra vocês que eu também estou, pois estou escrevendo agora e nem estou pensando como será o final. Vou deixar fluir e falar o que manda o meu coração. Sei que vocês, leitores, a maioria jovens, ouviram e viram, nessa última semana, muitas coisas em diversos meios de comunicação. Deve ter se divertido muito também com muitas mensagens no twitters, fazendo piadinhas da situação etc. Foram feitos muitos comentários sobre o que foi certo e o que foi errado em relação a decisão do Governo do Rio ou da Força de Segurança. Debates aconteceram, especialistas falaram, ONGs se manifestaram. Foi assunto para todo o mundo, mostrando um País que tem uma força poderosa e demonstrou que quando o Poder Público quer ele consegue. Tudo isso vocês já sabem, não é mesmo?
A minha reflexão vem de acordo com o trabalho que desenvolvo a mais de 23 anos, ou seja, a formação dos jovens. Ontem estava vendo uma reportagem em uma determinada emissora de TV, quando escutei o seguinte comentário: O poder oficial (governo) abandonou a população das favelas, e o poder paralelo (narcotráfico) adotou e tomou conta e fez o que vinha fazendo até o momento... . 
E o que tem a juventude com isso? Todo o contexto histórico do narcotráfico e da histórica invasão pela polícia, faz-nos perceber a importância que tem o fator INVESTIMENTO nas comunidades carentes, que chamamos de favela, não os abandonando e acompanhando de perto todas as necessidades emergentes, que deveriam ser prioridades ao Governo. 
Da mesma forma ocorre em relação a formação de nossos jovens. Se a Família, Escola, Igreja e o próprio Governo não encarar a educação dos jovens de forma séria, vamos ter no futuro muitas "gangs" formadas. Quem sabe muitos dos traficantes que foram presos e outro tanto que estão sendo procurados, tivessem tido uma oportunidade de estudar, de trabalhar, de ter uma família  consistente, com certeza teríamos uma realidade diferente nos dias de hoje. Isso me faz lembrar o depoimento de uma jovem que disse: nós estamos aqui porque somos pobres; não estamos aqui por opção própria. Estamos aqui porque fomos abandonados. Dura realidade esta!!
Quando abandonamos a educação séria dos nossos jovens, quando os pais querem comprar seus filhos com presentes, quando professores querem se parecer mais um com "cara legal, divertido e adorado pelos alunos", porém não levam a sério a educação do aluno, mostrando a ele o caminho correto, um caminho baseado em valores (às vezes nem mesmo o educador vive uma vida baseada em valores), com certeza estaremos colaborando para a criação de novas "gangs". Se a Igreja abandonar o jovem, achando que é uma missão impossível a evangelização dessa geração de arrogantes e "perdidos", com certeza estaremos colaborando cada vez mais para a criação de novos ocupantes dos "complexos" das diversas cidades de nosso País. 
Foto: http://www.afroreggae.org/complexo-do-alemao/
A juventude encontrada no Morro do Alemão é composta por um jovem desiludido, que não acredita mais em nenhuma Instituição, nem mesmo na família, desintegrada há muito tempo; jovens que nascem em famílias desestruturadas; jovens que têm que se "virar" para sobreviver, num morro onde não existe condição adequada de vida; geralmente sem a presença paterna, sozinho, com facilidade são aliciados por traficantes que mostram um mundo diferente, com possibilidades de ter um "dinheirinho" no bolso e fazendo trabalhos fáceis, como por exemplo, ser um "fogueteiro" ou levar um litro de gasolina para queimar um carro, ou simplesmente fazer uma "desova" ou atear fogo em um pneu para acabar com as provas de um crime etc. 
Com essa facilidade, sem vislumbrar um futuro melhor, o jovem é seduzido a isso. Aos poucos vai galgando os possíveis "postos" e logo está a frente de uma facção ou de uma favela, sendo chefe, mandando, matando e se defendendo como pode, como estamos vendo nas inúmeras reportagens dessa última semana.
 Esse é apenas um aspecto. O outro problema são os "outros" jovens que não vivem inseridos no "complexo", mas que usufruem das "mercadorias" que vem do morro. Não falo dos jovens pobres, das classes C, D e E. Falo dos jovens de classe A e B. Esses jovens que mantém toda a infraestrutura do morro.
O princípio é o mesmo. Se não existir uma educação firme dos pais em relação aos filhos, certamente veremos muitas mães e pais chorando a morte de seus filhos. Não apenas a morte biológica, mas a morte do caráter, dos valores e com isso se verá a própria derrocada da Instituição Família. (Leia mais sobre esse assunto Aqui).
O que percebo nos dias de hoje é que muitas vezes lares estão se transformando em verdadeiros "complexos do Alemão". A guerra começa na família; a formação de gangs começa dentro do lari; E é da família que sai esse jovem que nas escolas não se adaptam, que são problemas para amigos, professores e diretores; são jovens que saem por ali destruindo tudo, batendo em todo mundo, matando, ateando fogo em índios; violentando crianças; torturando animais etc. E ainda por cima, são protegidos pelos pais, afinal de contas "eles são apenas inofensivos adolescentes".
Queremos acabar com os "complexos" dos morros? Queremos acabar com o narcotráfico? Queremos acabar com o "bulling"? Queremos acabar com a violência? Só existe uma tarefa a ser feita: educar bem as nossas crianças, para que se tornem um jovem saudável. 
Por isso, da mesma forma de que o Estado Oficial abandonou as favelas e o estado paralelo as adotou,  quando abandonamos a educação das crianças e jovens, seja na Família, na Escola ou na Igreja, com certeza eles serão adotados pelo "poder paralelo". E quando chegar a esse ponto, a única coisa que faremos será  sentar em nossa confortável sala de TV, sintonizar um canal e ver a Polícia invadir mais um "Complexo" do nosso Brasil.

Um abraço
João Batista Pereira

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Escutar o que se ouve

À primeira vista, o título acima conduz o despercebido leitor a cogitar um erro gravíssimo de redundância por parte do autor. “Como posso escutar aquilo que não ouço?”, podem questionar. Outros chegarão à filosófica conclusão de que “ouço, logo escuto”. Por fim, alguns dirão que ambos os termos são e sempre serão sinônimos, desviando a conversa para o resultado futebolístico do final de semana e encerrando, de forma drástica, a possível discussão. Embora sejam vistas por muitos como semelhantes, há significantes diferenças entre as duas palavras. Segundo o Dicionário Michaelis, ouvir remete a “dar ouvido às palavras de; perceber pelo sentido do ouvido”, ao passo que escutar refere-se a “prestar atenção para ouvir; dar atenção à; sentir; perceber”. Em suma: enquanto ouvir está ligado às funções auditivas, escutar envolve-se primordialmente com a atenção (e conseqüente compreensão) àquele que nos dirige a palavra.


Um breve caso auxiliará na elucidação dos conceitos. Certa vez, uma mulher retornou aflita de seu trabalho, necessitando dialogar urgentemente com o marido. Ao adentrar em casa, notou o esposo sentado no sofá, lendo seu respectivo jornal. Não demorou muito para iniciar seu desabafo, de forma atropelada e desorganizada. Qual foi a sua surpresa ao ser interpelada pelo marido da forma mais superficial possível, com fáticos “aham”, “que mais” e “certo”, mas sem desgrudar os olhos das páginas esportivas um minuto sequer. Tornando-se ainda mais desesperada, não se agüentou e arrancou o jornal das mãos do homem que, assustado, perguntou: “O que está acontecendo?”. “Acontece que eu estou há quase meia hora lhe falando das idéias malucas de nossa filha, que deseja viajar com o namorado para uma praia deserta, e você continua com essa expressão de que nada está acontecendo. Será que você está me escutando?”. Certamente a resposta para esse caso é “não”, pois ele realmente não escutou o que estava sendo dito. É possível que seu canal auditivo tenha captado as ondas sonoras provindas da voz da esposa, transmitindo o estímulo para o próprio organismo. Todavia, dificilmente tal estímulo transformou-se em alguma mensagem efetiva, afinal, nenhuma atenção foi desprendida pelo sujeito para torná-la consciente.



Pode parecer um exemplo distante, contudo, está mais presente no cotidiano das pessoas do que se imagina. Basta refrescar da memória a última vez que se encontrou com aquele amigo indesejado e pouco quisto, vulgo chato: é bem provável que, em meio a tanto desinteresse em manter a conversa, o interlocutor tenha se utilizado apenas dos ouvidos (quizá respostas monossilábicas), sem envolver a escuta propriamente dita ou até mesmo, o mínimo de atenção. Outro exemplo dá-se costumeiramente nas salas de aula, em disciplinas que não interessem tanto a determinados alunos. Embora estejam olhando e ouvindo a figura do professor, seus pensamentos encontram-se há milhas de distância.



O movimento de escutar não é tão simples quanto se demonstra ser. Na atual sociedade, valoriza-se a máxima produção em detrimento ao menor tempo possível. Desta forma, pouco tempo é destinado ao exercício de escuta, uma vez que, na lógica pós-moderna, significa “perda de tempo”. Em vez de desprender de alguns minutos para dedicá-lo ao entendimento do próximo, prefere-se criar relações objetivas, mas superficiais, nas quais o contato está baseado mais no que cada um tem a dizer, ou seja, um “monologo dirigido”, ao invés de uma formação de diálogo.



Entretanto, existe alguém que pode servir de grande inspiração. Embora tenha partido há muito tempo, permanece vivo como exemplo a ser seguido: trata-se da pessoa de Jesus Cristo. Ele soube, de maneira única, estar inteiramente presente em todas as suas relações. Dificilmente será encontrada na bíblia alguma passagem que mostre Cristo conversando levianamente com o povo. Muito pelo contrário: Ele sempre está com uma posição corporal que permita olhar atentamente para o fiel, desprendendo toda a atenção que essa pessoa mereça. Jesus soube perfeitamente como escutar, cativar e compreender o próximo. Foi assim em todos os diálogos com seus apóstolos, com os dez leprosos, com Zaqueu e até mesmo com a adúltera. Independentemente daquele que se encontrava a sua frente, tratou todos de forma respeitosa e atenciosa. 



Diante do que foi apresentado e tendo como exemplo vivo a figura do Filho de Deus, percebe-se a grande importância que o processo da escuta assume na vida dos seres humanos. É preciso ir muito além do simples ato de ouvir. Faz-se necessário, antes de tudo, esforçar-se para estar atento à transmissão do mundo interno daquele que fala, captando assim o valor essencial de sua mensagem. Espera-se que as pessoas estabeleçam vínculos de confiança, sabendo-se que só serão criados caso existam ligações verdadeiras de ambas as partes. A esse clima de fraternidade os psicólogos denominam de relação dialógica, isto é, um relacionamento verdadeiro formado por duas pessoas (eu-tu), na qual se encontram presentes em sua totalidade, dotadas de comunicação genuína e sem reservas. Por fim (e parafraseando o brilhante Rubem Alves), é preciso dizer: “existem muitos cursos de oratória, mas nunca alguém se preocupou em criar um curso de escutatória”. Está disposto a ser pioneiro nessa arte? “Sintaxe” à vontade! 


Diogo Luiz Galline